Sistemas de tratamento de efluentes domésticos instalados no Paraná oferecem economicidade e benefícios ao meio ambiente

18 de junho de 2024
Wetland de ciclo fechado, instalada em São Mateus do Sul (PR). Foto: acervo Orlando Assis

Garantir saneamento básico para todos os brasileiros continua sendo um enorme desafio. Dados do Censo Demográfico de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que 24,2% da população (quase 49 milhões de pessoas) ainda não têm acesso a uma estrutura adequada – em 0,6% dos domicílios sequer há banheiro ou sanitário. Os detritos são despejados em locais como fossas rudimentares, valas, rios, lagos, córregos e no mar.

Nesse cenário, alternativas de baixo custo, fácil instalação e que tragam benefícios ao meio ambiente podem ser a solução. No Paraná, o saneamento básico sempre foi um trabalho da extensão rural, tanto no abastecimento d’água por meio de proteção de nascentes, poços superficiais ou poços artesianos em sistemas comunitários, quanto no destino correto dos efluentes. No entanto, sistemas complexos, caros e de baixa eficiência desmotivam a condução dessas atividades.

Construção da estrutura usando bambu e solo cimento. Foto: arquivo Orlando Assis

Construção da estrutura usando bambu e solo cimento. Foto: acervo Orlando Assis

Incomodados com esse passivo, técnicos do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná) buscaram outras formas para tentar resolver esse problema, sobretudo em soluções baseadas na natureza (SBN’s). Foi aí que tiveram os primeiros contatos com as chamadas wetlands e suas variações técnicas e estruturais. “Nas primeiras instalações havia empecilhos financeiros, devido à necessidade de mão de obra especializada (pedreiro) e ao fato de serem construídas com ferro e concreto, o que encarece o sistema. Usando a curiosidade e adaptação a orçamentos reduzidos, despertou-se a criatividade que é peculiar do extensionista, e a construção passou a ser substituída por bambu e solo cimento, reduzindo sobremaneira os custos da obra e oferecendo a independência aos interessados na implantação do sistema”, destaca Orlando Assis (CRBio 50.976/07-D), Biólogo do IDR-PR.

Hoje, há estações instaladas em vários municípios do estado, desde Foz do Iguaçu à região metropolitana de Curitiba. Na região do Miringuava, em São José dos Pinhais, foram instaladas algumas Wetlands em conjunto com a Companhia de Saneamento do Paraná – Sanepar. Seus afluentes e efluentes foram analisados no laboratório da Sanepar com a mesma tecnologia usada para a análise das estações da concessionária, apresentando resultados bastante promissores, com grande eficiência nos principais parâmetros relacionados ao esgoto sanitário, como DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), nitratos, fósforo, turbidez, sólidos totais, entre outros.

Como uma wetland funciona

O Biólogo explica que devido ao menor aporte de energia necessário para tratar as águas cinzas (lavanderia, chuveiro, cozinha) elas são separadas, quando possível, e são instalados sistemas independentes. Para as águas do vaso sanitário, em geral, são dois modelos possíveis na implantação, um aberto (fluxo contínuo de água) e outro fechado.

Sistema de esgotamento do efluente tratado por meio de estrutura de cano de PVC. Foto: arquivo Orlando Assis

Sistema de esgotamento do efluente tratado por meio de estrutura de cano de PVC. Foto: acervo Orlando Assis

Quando não há um fluxo regular de pessoas e grandes oscilações de usuários, o sistema de fluxo contínuo é a melhor opção, garantindo que o sistema não sature. Esse sistema consiste na condução dos efluentes a partir da fossa séptica para um tanque com filtragem física e ataque bacteriano predominantemente. As plantas macrófitas se nutrem dos nutrientes presentes no efluente e evapotranspiram boa parte desses líquidos, resultando num menor efluente residual, o que pode ser destinado ao ambiente ou mesmo reutilizado para irrigação ou para uso secundário, como limpeza de calçadas, etc.

Câmara séptica de pneus e sedimentos. Foto: acervo Orlando Assis

Câmara séptica de pneus e sedimentos. Foto: acervo Orlando Assis

No sistema fechado não há residual e a câmara séptica (pneus) fica dentro da estação de tratamento. Para tal, deve ser bem dimensionada em relação ao número de usuários.

Benefícios econômicos e para o meio ambiente

De acordo com Orlando, em relação a outros sistemas de tratamento de efluentes domésticos, o custo de implantação de uma wetland é bastante interessante, já que não há necessidade do uso de insumos periódicos e tem pouca manutenção. Um sistema de ciclo fechado, para 5 pessoas, ocupa uma área circular de 3 m de diâmetro por 0,90 cm de profundidade e pode ser construído com uso de bambu e solo cimento, incluindo o material filtrante (areia e pedra brita), com um custo aproximando de R$ 500,00 – pode ser construído pelo próprio morador. Um sistema de fluxo contínuo, com as mesmas dimensões, fica um pouco mais caro em função da estrutura de esgotamento dos efluentes tratados por meio de canos de PVC, acrescendo em R$ 300,00.

Ambientalmente falando, são inúmeros os benefícios alcançados com uma wetland implantada, seja pela eficiência do tratamento na remoção de mais de 90% da DBO e DQO, principais atributos a serem analisados em tratamento de esgoto doméstico, seja pela melhoria da paisagem, pela contribuição no ciclo da água, melhorando a condição das águas dos riachos e rios do meio rural.