A Bióloga Patrícia Muniz de Medeiros (CRBio 77.651/05-D), pesquisadora e professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), esteve em Paris em junho deste ano para a cerimônia de entrega do prêmio For Women in Science International Awards, promovido pela Fundação L’Oréal em parceria com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), na categoria International Rising Talents, que recebeu em 2020 por suas pesquisas com plantas alimentícias não convencionais (PANC).
Patrícia é coordenadora do bacharelado em agroecologia da Ufal realizado em parceria com o Pronera (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária), um curso voltado especificamente para acampados, assentados e quilombolas.
O entusiasmo de Patrícia ao falar sobre o projeto é grande, não apenas pelo prêmio, mas pelas contribuições possíveis que pode dar em diversos aspectos: científicos, nutricionais, ambientais e sociais. Antes, porém, de apresentar a pesquisa, vamos conhecer um pouco da trajetória da profissional*.
Formada em 2008 pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Patrícia sempre buscou a integração da Biologia com outras áreas de conhecimento. “Sempre me imaginei como professora, mas antes de ingressar na Biologia eu me imaginava na área de Humanas devido a referências que eu tinha: minha mãe e minha tia, ambas professoras. No ano em que eu prestaria vestibular comecei a conhecer e me interessar pela área de Meio Ambiente e optei pela Biologia”, conta ela sobre sua escolha profissional. Durante a graduação, encantou-se pela Etnobotânica, justamente por conciliar a Biologia ao interesse nas Ciências Humanas, ao estudar as relações de pessoas com as plantas.
Apesar de hoje ser cada vez mais reconhecida por seu trabalho com as PANC, seu foco não esteve sempre nas plantas alimentícias: na graduação, aprofundou estudos sobre o uso de lenha; no mestrado, estudou o uso de produtos madeireiros para fins domésticos; no doutorado, sua tese envolveu estudos sobre plantas medicinais.
Sua primeira experiência de pesquisa especificamente com as PANC foi como docente na Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde lecionou de 2011 a 2013. Lá ela deu aulas nas disciplinas de Botânica Econômica, Biodiversidade e Conservação e Meio Ambiente e Educação. E foi lá também que orientou um projeto de graduação envolvendo entrevistas sobre como as populações locais de regiões da Chapada Diamantina interagem com as PANC. Em 2013, o câmpus no qual ela lecionava passou a ser Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), e ela seguiu lá até ir para Alagoas dar aulas na UFAL, onde está desde 2015. Na UFAL seus alunos são dos cursos de Agroecologia e de Engenharia Florestal. “Nas Ciências Agrárias os estudantes costumam cobrar bastante a relação da teoria com a prática em todos os conteúdos, e como o foco das aulas eram os alimentos, fui buscar essa prática com as plantas alimentícias não convencionais”, comenta ela.
Foi a partir desse momento que iniciou o projeto de pesquisa premiado. A escolha foi por iniciar uma pesquisa com plantas frutíferas silvestres comercializadas por comunidades de agricultores do município de Piaçabuçu (litoral sul do Alagoas). São plantas comestíveis pouco conhecidas do público em geral, especialmente em áreas urbanas, e sua popularização poderá contribuir para a geração de renda dos agricultores locais.
Passou a conduzir a pesquisa identificando diversos aspectos que ultrapassam os limites da Etnobotânica, integrando outras áreas de conhecimento como a Psicologia do Alimento e o Comportamento do Consumidor, como ela explica: “São áreas de conhecimento necessárias para podermos identificar por que as pessoas consomem ou não determinadas PANC, quais têm maior potencial, quais aspectos geram aversão, qual o perfil socioeconômico das pessoas com maior tendência a consumir, entre outros aspectos. As respostas poderão ser sistematizadas em informações sobre as espécies mais promissoras, público-alvo, as melhores formas de divulgar os produtos e o quanto pode ser extraído de cada espécie para que o uso seja sustentável”.
“Trata-se de uma resposta que a ciência pode dar sobre o comportamento humano, contribuindo para geração de renda de pequenos agricultores, para o plantio e extração sustentável das plantas e para a divulgação destes alimentos com alto valor nutricional, gerando qualidade de vida a quem consome”, anima-se a Bióloga.
Hoje uma entusiasta das PANC, Patrícia comenta que a pesquisa gerou mudança de comportamento nela também: “Com a repercussão do prêmio muitos colegas vêm me perguntar se partiu do meu interesse e gosto prévio por essas plantas, mas ressalto que não, ainda nem consumia. A motivação foi científica e social. Foi depois de iniciar os estudos que as incluí em minha alimentação”.
* Perfil publicado na edição nº 43 da revista BioParaná (pgs. 6, 7), com atualização em 19/07/2022.