A bióloga curitibana Maristela Zamoner é referência nacional em “lepidópteros”, a ordem de insetos que inclui as borboletas e mariposas. Ao analisar as matas da Grande Curitiba, ela chegou a uma conclusão surpreendente. Estamos subestimando a biodiversidade de borboletas, afinal, em pouco mais de um ano, foram registradas 410 espécies em apenas três pontos de estudo na capital! Com a participação da população, tirando fotos, o total subiu para 520. Em todo o Estado foram registradas 578 espécies e no Brasil, 1473.
Os resultados estão hospedados no portal internacional de mapeamento da biodiversidade iNaturalist, mantido pela Academia de Ciências da Califórnia com o apoio da revista National Geographic. Podem contribuir com a inclusão de fotos das diferentes espécies avistadas, fotógrafos de natureza, estudantes, professores, pesquisadores, consultores ambientais, profissionais de borboletários e a interessados em geral.
A rotina da pesquisadora inclui décadas de acompanhamento do comportamento desses animais em diferentes pontos, como a unidade de conservação do Jardim Botânico da cidade e em outras reservas, como o bosque do Capão da Imbuia, a propriedade da família dela, em Quatro Barras, e a chácara de seu marido, Deni Schwartz Filho, em Campina Grande do Sul, que, após muitos anos de exploração agrícola, foi recuperada por ele com plantio de espécies da Floresta com Araucária. O principal desafio de Maristela era estudar as borboletas sem sacrificá-las, conhecendo esses animais em vida e não em morte.
“A gente vem de uma história com biólogos de séculos anteriores em que o conhecimento foi construído, basicamente, por meio das coletas. E esse conhecimento foi muito importante para que pudéssemos descobrir as características das borboletas. Mas a partir do momento em que começamos a desenvolver novas tecnologias, é possível abrir os olhares para formas diferentes de se conhecer essa biodiversidade”. diz Maristela.
As borboletas são responsáveis pela produção de comida, graças aos serviços ecossistêmicos que oferecem, como a polinização de 75% das plantações de todo mundo. Também são bioindicadores da qualidade ambiental, servem de alimento para pássaros e outros animais, reabastecem o solo, mantendo o equilíbrio de todo o planeta, contribuindo para a sobrevivência dos seres humanos.
A espécie está ameaçada de extinção e só existem três registros no estado de São Paulo.
O registro da espécie Prepona deiphile deiphile foi feito pela bióloga Laura Braga, dentro do Legado das Águas, reserva particular de 31 mil hectares, localizada no Vale do Ribeira, em São Paulo.
A floresta de alto grau de conservação é berçário e refúgio para espécies raras e ameaçadas de extinção. Há possibilidade de existir mais borboletas como essa, pois são difíceis de serem avistadas porque se alimentam de frutas fermentadas e vivem na copa de árvores muito altas.
O Legado iniciou o levantamento de borboletas no Vale do Ribeira, em 2016, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo e a empresa Votorantin. Até o momento, foram registradas 226 espécies na área.
Também conhecida como butterfly watching, ou butterflying, ganha mais adeptos a cada dia. A atividade permite um contato maior com a natureza e traz vários benefícios à saúde mental, física e espiritual. Do ponto de vista profissional, entender o comportamento desses insetos é importante para compreender seu papel no ciclo de vida de todo um ecossistema. As borboletas são excelentes bioindicadores, seres que revelam condições ou desequilíbrios ambientais, além de cumprir papel fundamental na polinização e como sustentáculo da cadeia de várias outras espécies. Quer ler mais sobre Observação de Borboletas e as espécies encontradas em Curitiba? Escaneie os QR Codes para ter acesso gratuito aos livros!.
Fonte: O Eco