Araras-azuis do Zoológico de Curitiba (Foto: Luiz Costa/SMCS-Divulgação)
* Matéria publicada na edição nº 43 da Revista BioParaná. Confira a edição completa aqui
Uma iniciativa legislativa da cidade de São Paulo trouxe à tona, mais uma vez, o debate sobre o funcionamento dos zoológicos. A partir deste ano, a instalação de novos estabelecimentos na capital paulista está proibida pela Lei 17.321/2020, sancionada em março. “Os animais aprisionados apresentam o comportamento alterado, o que não os reflete, além de transmitir a ideia de poder do ser humano sobre a natureza, como se este tivesse o direito de encarcerar os animais para seu entretenimento”, argumenta o vereador Reginaldo “Xexéu” Tripoli (PV) nas justificativas do projeto de lei que foi apresentado por ele em 2019.
Iniciativas como essa encontram respaldo em um movimento que segue reivindicando o fechamento de zoológicos. Para a Bióloga Nancy Marya Santana Banevicius (CRBio 41.672/07-D), Chefe de Serviço de Fauna do Zoológico Municipal de Curitiba, isso se deve ao fato de as pessoas ainda terem informações errôneas e não procurarem saber como realmente as instituições atuam. “Elas acham que os zoos retiram os animais da natureza, mas na verdade os animais chegam em sua maioria de apreensões dos órgãos ambientais, vítimas do tráfico, comércio irregular, circos ou mantenedores irregulares. Outros chegam após sofrerem traumatismos como atropelamentos, tiros, flechadas, ferimentos causados por agressões ou, o que tem acontecido muito ultimamente, aves feridas por linhas de pipa contendo cerol e que apresentam fraturas irreversíveis e asas mutiladas”, ressalta.
Nancy recorda que antigamente os zoológicos possuíam como principal função o lazer, um local onde as pessoas poderiam visitar e observar animais que dificilmente conheceriam de outra forma. O conceito de bem-estar animal, por exemplo que pode ser aplicado aos animais mantidos sob responsabilidade humana, estando eles em zoológicos, fazendas de criações ou mesmo animais de estimação – começou a ser trabalhado no Brasil no começo dos anos 2000, algo muito recente. Hoje, no entanto, os zoológicos e aquários mudaram seus paradigmas e passaram a assumir as funções de conservação e pesquisa, sempre alinhadas ao conceito de bem-estar animal e aliadas à educação ambiental. “Os zoos e aquários continuam sendo locais de lazer, mas os visitantes agora conhecem formas de contribuir com a conservação de espécies ameaçadas e de seus ambientes naturais e aprendem quais os impactos que nós, seres humanos, estamos causando na biodiversidade do planeta”, destaca a Bióloga.
Ao defender a manutenção dos zoológicos, Nancy é enfática: “Acredito que ao invés de pensar em proibir a criação de novos zoológicos ou outras instituições mantenedoras de fauna, os esforços têm que se voltar para o combate ao tráfico de animais silvestres, à destruição de seus habitats naturais, e aos atropelamentos em estradas, especialmente as que passam no interior de unidades de conservação (causa da morte estimada de mais de 475 milhões de animais por ano). Essas sim são as causas da retirada de milhares de animais da natureza”.
Atuação de Biólogos em zoológicos
As atribuições de Nancy na gestão do Zoológico de Curitiba dão a dimensão de como Biólogos podem atuar nesta área. Dentre as responsabilidades estão: controle da entrada e saída dos animais; manejo de recintos; pareamento de casais; cuidados de filhotes; permutas entre instituições; enriquecimento ambiental; preenchimento de dados para Studbooks e Planos de Manejo; elaboração de relatórios técnicos; visitas orientadas para cursos de ensino superior; atendimento ao público; atendimento aos diferentes canais de mídia; pesquisas para reprodução e reintrodução de animais na natureza; auxílio aos veterinários e zootecnistas.
OUTRAS EDIÇÕES DA BIOPARANÁ QUE ABORDAM O TEMA
• Acantonamento ecológico leva diversão e educação para crianças do ensino fundamental
A edição nº 15 traz uma matéria sobre a Casa de Acantonamento, localizada numa área contígua ao Zoológico Municipal de Curitiba, que desde 1991 oferece educação ambiental e social.
• Não alimente os animais
A edição nº 25 mostra iniciativas de zoológicos, áreas verdes e parques, bem como unidades de conservação abertas à visitação pública que visam orientar os visitantes sobre a gravidade de interferir na alimentação balanceada dos animais.
• Zoos em debate
A missão dos zoológicos na conservação de espécies e na educação ambiental foi reportagem de capa da edição nº 35.
PAPEL DOS ZOOLÓGICOS E PARQUES NA CONSERVAÇÃO EX SITU
Assista na íntegra à videoconferência realizada em junho de 2020 que debateu a “Reintrodução e o Papel dos Zoos na Conservação ex situ”. O evento foi coordenado pela Bióloga Neiva Guedes (CRBio 6.476/01-D) e contou com a participação de especialistas da área.