Vacinas são confiáveis e trouxeram longevidade, afirmam pesquisadores

5 de outubro de 2017

Por Camila Cabau

Os nascidos na década de 1980 em diante ainda têm fresco na memória o personagem Zé Gotinha, criado para chamar atenção dos pais e das crianças para as campanhas de vacinação. A estratégia do Ministério da Saúde foi considerada um sucesso e ajudou a classificar como eficientes diversas campanhas realizadas desde então. Entretanto, atualmente, profissionais de saúde têm registrado o surgimento de boatos e posicionamentos de pais que afirmam haver malefícios na vacinação. Essa corrente também é notada em países europeus e nos Estados Unidos.

A ideia de que é mais saudável abster seus filhos de campanhas desta natureza pode ser facilmente desmanchada, na opinião do médico Reinaldo de Menezes Martins, doutor em Doenças Infecciosas e Parasitárias e colaborador do Ministério da Saúde na área de vacinas e farmacovigilância em vacinas, como consultor científico sênior da Fundação Oswaldo Cruz.

“As vacinas fazem bem à saúde humana. Basta ver que as doenças infecciosas que podem ser evitadas por vacinas estão em declínio ou sumiram, como a poliomielite e a varíola. Hoje em dia, as mães não se preocupam mais com difteria, tétano ou sarampo. Todas essas doenças deixaram de fazer parte do dia a dia da população graças a um sistemático programa de vacinação”, explica.

O médico destaca que as vacinas tiveram grande impacto na diminuição da mortalidade infantil e no aumento da expectativa de vida, que, no início da década de 1920, era de 40 e, agora, é de 80 anos. “Isso especialmente entre as populações mais pobres, que sempre tiveram registros mais acentuados de doenças. As vacinas, somadas a melhores condições de saneamento, acesso a água potável, ampliação da rede de esgoto, alimentação com maior qualidade nutricional e higiene, formam os fatores que resultaram em um ser humano saudável e ativo por mais anos”, afirma.

A opinião de Reinaldo de Menezes Martins também é compartilhada pela Bióloga Luisa Lina Villa, (20.925/01-D). A doutora em bioquímica dedica-se aos estudos de microbiologia, com ênfase em virologia, fazendo parte da equipe de pesquisadores que trabalharam por 30 anos no desenvolvimento da vacina contra o papilomavírus humano (HPV).

Luisa detalha que, até as vacinas chegarem à população, o caminho percorrido por pesquisadores é considerado longo, devido aos altos critérios de eficiência e confiabilidade dos cientistas. No caso da vacina do HPV, disponível desde 2016 na rede pública para jovens e adolescentes, os estudos determinando que o HPV causa câncer levaram 15 anos para ser concluídos. Depois, foram necessários mais cinco para fazer testes em animais, e outros dez de ensaios clínicos para desenvolver a vacina em si.

“Depois de tantos anos de trabalho prático e intensivo, posso afirmar que as vacinas fazem bem à população. Elas atuam para que as pessoas desenvolvam uma reação de imunidade contra o agente infeccioso. Precisamos ter em mente que o desenvolvimento de vacinas é um processo sério e sem interesses comerciais. O governo investe nestas pesquisas e nas vacinas porque sabe que é mais saudável e econômico atuar na prevenção das doenças e não na cura de uma população que seria incapaz de produzir”, enfatiza a pesquisadora.

Consequências

Os doutores Reinaldo e Luisa também concordam que um cenário possível de se tornar realidade, caso a população opte pela não vacinação, é o retorno de doenças que provocaram grandes tragédias no passado. “As pessoas pagarão um preço por isso. Mas, caso ocorra, acredito que logo voltariam a procurar as vacinas. Afinal, elas já demonstraram que são extremamente eficientes”, diz Reinaldo Martins.

A Inglaterra registra em sua história recente dois casos em que os pais decidiram pela não vacinação de seus filhos. Especulações apontavam que a vacina de coqueluche provocava danos cerebrais irreversíveis e que a tríplice viral poderia provocar autismo. “Houve epidemias das doenças, pessoas morreram e a consequência foi o retorno da população ao consumo adequado das vacinas”, detalha o médico.

“Não existe razão para ter medo. Todos devem procurar estar em dia com a vacinação”, aconselha Luisa Villa.

Não vacinar os filhos, além de colocar em risco a saúde da criança, também vai contra a legislação brasileira, que afirma no artigo 14, primeiro parágrafo, do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA: “é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”. Os artigos 27 e 28 do Decreto nº 78.231, de 12 de agosto de 1976, também tornam obrigatória a vacinação, quando recomendada pelo Ministério da Saúde.

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