Por Antônio Menegatti
Os avanços tecnológicos cada vez mais velozes estão transformando as relações de trabalho, alterando algumas profissões e até colocando outras em risco. Com a crise econômica e o mercado saturado em praticamente todas as áreas, a saída para muitos profissionais tem sido empreender. Mas a pergunta que fica é: os futuros Biólogos estão sendo preparados para criar e gerir empresas?
A resposta é não, segundo as professoras universitárias e conselheiras do Conselho de Biologia do Paraná, Verginia Mello Perin Andriola (9.764/07-D) e Norma Catarina Bueno (18.248/07-D), que também são, respectivamente, coordenadora e integrante da CFAP – Comissão de Formação e Aperfeiçoamento Profissional do CRBio-07.
“Pela análise das matrizes curriculares dos cursos de Ciências Biológicas do Paraná a que tivemos acesso, apenas a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) oferta a disciplina Empreendedorismo, mas como ela pertence ao Núcleo de Diversificação ou Aperfeiçoamento da grade curricular, não é obrigatória, podendo ou não ser cursada de acordo com a escolha do aluno. A maior parte das instituições de ensino superior (IES) não tem componentes curriculares dessa natureza”, analisa Verginia.
Para Norma, a solução está em incluir, nas matrizes curriculares dos cursos, componentes ligados à educação empreendedora. “Os alunos também poderão ser orientados a cursarem esses componentes como disciplinas optativas em cursos que tradicionalmente os ofertam”, sugere.
De acordo com Fernando Ferrari de Morais (47.489/07-D), Fiscal Biólogo do Conselho, não existem informações específicas compiladas em um banco de dados sobre a quantidade de Biólogos que partem para iniciativas empreendedoras. “Minha percepção, pela emissão de Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs) e Termos de Responsabilidade Técnica (TRTs), é que boa parte das iniciativas estão na área do Meio Ambiente e Sustentabilidade”, afirma. A ART consiste no registro das atividades desenvolvidas pelo profissional Biólogo, enquanto o TRT é um documento da pessoa jurídica registrada no CRBio, que indica o Biólogo Responsável Técnico pela instituição ou empresa.
Empresas juniores
Se a educação empreendedora ainda não aparece nas grades curriculares das IES, algumas iniciativas já chamam a atenção. De acordo com a Federação das Empresas Juniores do Estado do Paraná (Fejepar), quatro universidades públicas contam com empresas juniores no curso de Ciências Biológicas.
Três delas são estaduais: Bioma Consultoria Ambiental (Universidade Estadual de Londrina – UEL), Ecoalize (Universidade Estadual de Maringá – UEM) e BioCem Jr (Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG). A Ecos – Empresa Júnior de Biologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) completa a lista. Nenhuma das empresas juniores é afiliada à Fejepar, conforme informações de Ana Flávia Zanon, diretora de Expansão da Federação.
Projetos e serviços
Em Curitiba, 20 alunos da graduação atuam na Ecos, fundada em 2010. A empresa júnior trabalha com educação ambiental, ecoturismo, programa de gerenciamento de resíduos sólidos, plano de arborização e análise microbiológica da água, entre outros serviços.
Caroline Macedo, diretora-presidente da Ecos, revela que a experiência trouxe desenvolvimento pessoal e aprendizado sobre o cotidiano de uma empresa. “Além disso, fazer parte da Ecos trouxe conhecimento em coisas que a graduação não abrange, como planejamento financeiro, liderança, gestão de pessoas. São temas que dificilmente são trazidos até a universidade, principalmente em cursos em que o enfoque é pesquisa ou licenciatura”, completa.
Já a Ecoalize, da UEM, foi fundada em 2012. Atualmente, 18 alunos executam projetos, consultorias e eventos na área ambiental. Larissa David Gama, presidente da Empresa, observa que o curso de Ciências Biológicas possui uma grade completa para preparar os futuros Biólogos para a docência e a pesquisa. “Mas, quando se trata de extensão, especialmente na área de consultoria, vejo que não há atividades no curso que consigam atingir o aluno da forma como a Ecoalize atinge. Como futura Bióloga, me sinto privilegiada em realizar projetos pertinentes à minha profissão, sob orientação de profissionais formados, ainda na graduação”, avalia Larissa.
Alunos de Ciências Biológicas da UFPR em atividade de Ecoturismo, pela Ecos, empresa júnior
Crédito: Arquivo Ecos