Década do Oceano desafia profissionais da Biologia ao engajamento

11 de novembro de 2021


Mais de 70% da superfície do planeta é coberta por oceanos e mares e, no entanto, eles ainda são pouco conhecidos e conservados. Para conscientizar a população em todo o mundo sobre sua importância e mobilizar atores públicos, privados e da sociedade civil organizada em ações que favoreçam a saúde e a sustentabilidade dos oceanos e mares, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que o período de 2021 até 2030 será a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, ou “Década do Oceano”, como vem sendo chamada.

Segundo a Unesco, o oceano fornece alimento e condições de vida para mais de 3 bilhões de pessoas. Ele também é responsável por 30 milhões de empregos diretos, gerando uma riqueza equivalente a US$ 3 trilhões por ano. Isso significa que o oceano poderia ser classificado, em termos econômicos, como a 5ª economia do mundo.

De acordo com o Biólogo Dr. Alexander Turra (CRBio 39.692/01-D), professor titular do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP) e coordenador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano, o “maretório” brasileiro tem 5,7 milhões de Km² e corresponde a cerca de 20% do PIB nacional. Para se ter uma ideia da dimensão, a parte continental tem 8,5 milhões de Km². Em contrapartida, 1/3 da população não conhece o oceano.

A Bióloga Dr.ª Camila Domit (CRBio 50.867/07-D), coordenadora do Laboratório de Ecologia e Conservação do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (UFPR), lista uma série de serviços oferecidos pelo oceano: provê o oxigênio que respiramos; provê a estabilidade climática; provê minérios (como o petróleo e o gás); provê segurança alimentar por meio dos recursos pesqueiros; garante a comunicação entre os países; garante a manutenção de uma rica biodiversidade ao planeta e a provisão desses serviços. “A Década do Oceano é a oportunidade de nós olharmos para esse ecossistema, sua biodiversidade, seus serviços e seus ciclos, avaliarmos o estado de degradação atual, mas, principalmente, olharmos para a busca de soluções compatíveis, coletivas e participativas nesse processo”, enfatiza.

Camila destaca, ainda, que a Década do Oceano é uma iniciativa global que traz uma oportunidade de engajamento desde as esferas locais até as internacionais para que toda sociedade, os governos, os tomadores de decisões e os pesquisadores olhem para o oceano e entendam a sua importância para a manutenção da vida de todo o planeta. Dessa maneira, podem buscar de maneira conjunta, participativa, integrada e transdisciplinar encontrar soluções para os problemas que trazem a degradação desse ecossistema e dos serviços prestados por ele.

DESAFIOS PARA OS PROFISSIONAIS

Para Alexander Turra, os Biólogos têm um papel central e diversificado na Década do Oceano. “Podem atuar na geração de conhecimento sobre os mais variados aspectos da biodiversidade e do funcionamento do ambiente marinho; na proposição e execução de iniciativas para o desenvolvimento da economia sustentável do oceano, como a biotecnologia e maricultura; na tradução e disseminação do conhecimento por meio do ensino e jornalismo científico; e no auxílio à sociedade, por exemplo, por meio do terceiro setor, na promoção de ações para uma transformação para um oceano sustentável”, afirmou o Biólogo em entrevista à edição nº 56 da revista O Biólogo, produzida pelo Conselho Regional de Biologia da 1ª Região – CRBio-01.

Camila Domit também defende que Biólogos são profissionais essenciais nesse processo, na medida em que estudam a vida, avaliando tanto a biodiversidade e suas conexões, as relações ecológicas, os serviços ecossistêmicos prestados por esse ambiente, além de terem em sua formação a capacidade de avaliar e monitorar os impactos ambientais. “O Biólogo, junto a outros profissionais, tem o papel de atentar a sociedade, identificar os problemas e mostra-los, auxiliar numa comunicação mais assertiva, engajadora, e trazer ferramentas de suporte às tomadas de decisão”.

A Bióloga faz questão de ressaltar que a Década não é só para cientistas, mas é o uso da ciência por todos como ferramenta de mudança, e reforça a convocação aos profissionais da Biologia que atuam na área de comunicação, na área de educação, que estão à frente de empresas e de apoio a estruturas de governança: “Todos nós Biólogos, todos nós cidadãos, todos nós responsáveis pela vida e preocupados com ela somos chamados a olhar para o oceano e nos engajarmos nessa década, entendendo que ela é uma força motriz para que possamos alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, esse é no nosso grande foco”.

ALGUMAS INICIATIVAS PELA DÉCADA DO OCEANO NO PARANÁ E NO BRASIL

Em parceria com a Unesco, a Universidade Federal do Paraná lançou a Coalizão UFPR pela Década dos Oceanos, tendo como desafio mapear as ações em colaboração à Década e incluir a universidade como protagonista regional e internacional. A ação começou a partir de uma articulação do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Costeiros Oceânicos, mas é direcionada a todos os programas.

A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e a Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná promovem o CAMP Oceano, uma iniciativa de capacitação que busca o desenvolvimento de soluções práticas para a resiliência costeira e conservação dos ambientes de relevância ecológica e econômica na costa brasileira, de forma multidisciplinar e colaborativa. Mais informações no site camp.teiadesolucoes.com.br.

Em nível nacional, a Ilha do Conhecimento, com atuação dedicada à popularização da ciência, em parceria com a Cátedra da Unesco para a Sustentabilidade do Oceano e a Liga das Mulheres pelo Oceano, movimento em rede que integra os esforços de emancipação das mulheres e atua pela conservação do oceano, lançaram um projeto cujo objetivo é divulgar a ciência e as iniciativas voltadas à promoção da Década do Oceano e a cultura oceânica por meio da produção de materiais de divulgação e a promoção de uma rede de cientistas brasileiros ligados à Década. Os conteúdos são disponibilizados em ilhadoconhecimento.com.br.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), representante científico na Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da UNESCO, é responsável pela implementação da Década da Ciência Oceânica. O site oficial é decada.ciencianomar.mctic.gov.br.