Carlos Augusto Chamoun do Carmo, Biólogo premiado por tese inovadora de ciência forense

4 de maio de 2020

* Matéria publicada na edição nº 42 da Revista BIOPARANÁ. Confira a edição completa aqui.

 

O Biólogo e Perito Criminal Carlos Augusto Chamoun do Carmo (CRBio 21.977/02-D) tem alcançado grande reconhecimento público por sua contribuição com uma inovadora técnica na área da ciência forense. São diversos os prêmios, menções honrosas, publicações científicas e homenagens recebidas nos últimos anos. Não é para menos: ele é autor de uma tese que comprovou ser possível a recuperação do DNA de estupradores a partir de imaturos (larvas e pupas) de mosca presentes no cadáver em decomposição avançada.  

Em síntese, a técnica desenvolvida a partir de suas pesquisas ampliaconsideravelmente o prazo para a polícia técnica-científica obterprovas materiais contra estupradores homens, em casos de estupro de mulheres seguido de morte. Os vestígios no corpo em decomposição são praticamente nulos após 24 horas, mas por meio das larvas e pupas foi possível a obtenção de DNA do cromossomo Y até 14 dias após a morte, como explica o Biólogo: “Quando qualquer pessoa morre, as moscas colocam ovos no corpo, que evoluem para larvas em diferentes etapas. Constatamos que elas preservam no intestino o DNA das substâncias que ingerem, incluindo o sêmen, permitindo então chegar à identificação do estuprador”. 

O orgulho em contribuir para a elucidação de crimes contra a vida e para a evolução da Biologia Forense é grande para Chamoun, que atua como perito desde 2007. Formado em Biologia em1995 pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro -UERJ, Chamoun é mestre em Microbiologia pela Universidade Federal de Viçosa–UFV (1999) e doutor em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ (2010-2014).  

Professor há 21 anos, já lecionou as disciplinas de microbiologia, biotecnologia, genética, biologia molecular e biologia geral. Há dez anos é professor do IFES–Instituto Federal do Espírito Santo. Também desenvolve pesquisas na área molecular, entomológica e química, o que contribui muito para seu trabalho como perito e como professor.  

Em 2006 passou no concurso público para a perícia noestado do Espírito Santo, atividade que caiu como uma luva para seu perfil profissional: “Sou muito curioso e sempre acheiinteressante a aplicação da ciência no mundo jurídico como forma de auxiliar na elucidação de crimes”, diz o Biólogo, ressaltando que atuar com pesquisa é um incremento fundamental para ambas atividades(magistério e perícia forense).  

Foi na atividade como perito que Chamounsentiu que algo precisava ser feito para mudar a realidade da falta de provas materiais em casos de estupros seguidos de morte: “Atuando com homicídios e suicídios era muito frustrante chegar ao local de crime e me deparar com vítima de estupro já em decomposição, sabendo que os vestígios são quase nulos nestes casos”.  Em 2009, depois de ler um livro de entomologia forense e de conversar com a autora desse livro e outros professores da área molecular, veio a ideia da tese de recuperação do DNA a partir das larvas em corpos em decomposição.  

Foram nove meses de estudos e elaboração do projeto até a aprovação para o ingresso no doutorado, com nota máxima. Durante a pesquisa, os experimentos foram realizados em parte no Brasil (Laboratórios da UFRJ e da Polícia Civil do Rio) e em parte nos Estados Unidos, junto ao laboratório criminal de Miami (Crime Lab/CSI). A tese foi finalizada em 2014, mas as pesquisas relacionadas à técnica desenvolvida continuam em evolução constante, sob a coordenação de Chamoun junto aos seus alunos. 

Entre os reconhecimentos pela nova técnica está a premiação da Sociedade Brasileira de Ciências Forenses (SBCF) como a melhor tese de doutorado do país na área forense, em 2016. Mais recentemente, em novembro de 2019, venceu o Prêmio Espírito Público como melhor projeto na área de segurança pública, sendo o autor homenageado também como destaque entre os vencedores. “Ser o profissional de destaque na área da segurança pública era algo impensável para um perito criminal”, conta com orgulho o Biólogo. Ele também foi homenageado oficialmente pelos peritos criminais no evento do Dia do Perito Criminal, em dezembro de 2019.  

O maior resultado, no entanto, é o efeito prático da nova técnica, como no caso deuma criança que havia sido estuprada no Rio de Janeiro em 2019 e o seu protocolo foi adotado. O culpado foi encontrado, graças ao DNA presente nas larvas.“São muitos os ganhos com essa técnica, sendo o principal tirarmos um estuprador do convívio social, protegendo assim possíveis vítimas futuras”, celebra o Biólogo, que espera ver ainda o Brasil adotar a técnica em todo o território nacional. “Precisamos melhorar a perícia no país. Não apenas eu,existem outras pessoas que também vêm contribuindo há um bom tempo e sabemos que existe muita coisa a se fazer ainda”, afirma.