Bióloga alerta para doença transmitida pelo Aedes aegypti que pode matar cães

20 de março de 2024

Os casos de dengue vêm aumentando rapidamente no início deste ano. Segundo o Ministério da Saúde, até o dia 1º de março o Brasil registrou mais de 1 milhão de casos prováveis, 258 mortes confirmadas e 651 óbitos em investigação. A doença é transmitida pelo Aedes aegypti, que também é o transmissor da zika, febre chikungunya e febre amarela urbana. O contágio se agrava ainda mais no verão, com dias quentes e chuvosos, quando o mosquito encontra condições favoráveis para se proliferar.

Mas outra doença, também transmitida pelo mosquito, precisa ser amplamente divulgada e prevenida: a dirofilariose canina. Popularmente conhecida como doença do verme do coração, é causada pelo nematódeo Dirofilaria immitis, que tem como hospedeiros preferenciais e definitivos os cães domésticos. Vale ressaltar que mais de 70 espécies de mosquitos, além do Aedes, podem ser hospedeiras intermediárias.

Na América Latina, o Brasil é o país com mais relatos da doença com transmissão ativa em 14 dos 26 estados. “Sua incidência vem aumentando devido ao fato de que a ocorrência está intimamente ligada à presença de um hospedeiro invertebrado, condições climáticas favoráveis, nível socioeconômico da região, assim como trânsito entre regiões indenes e endêmicas/epidêmicas (presença de vetores)”, alerta Elydia Paulina Campanholo Busetti (CRBio 854/07-D), Bióloga do Programa Municipal de Controle do Aedes, do Centro de Saúde Ambiental da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba.

Sistema digestório do Aedes

Elydia explica que o mosquito é o hospedeiro intermediário, onde ocorrem a primeira e segunda muda. A partir do acasalamento, as fêmeas necessitam de sangue (repasto sanguíneo ou hematofagismo) para a maturação dos seus ovos. Ao picar um cão com o “verme do coração”, a fêmea do Aedes aegypti suga as microfilárias (pequenas larvas fusiformes) da circulação sanguínea do animal.

No corpo do mosquito, após 24 horas, as microfilárias seguem para o intestino delgado e depois para a mucosa estomacal. Em cinco dias, nas células dos Túbulos de Malpighi, ocorre a primeira muda para larva de estágio L1. Em dez dias, no lumen dos Túbulos de Malpighi, as larvas sofrem a segunda muda e transformam-se em L2. Em quinze dias, se transformam em larvas de estágio L3 (microfilárias infectantes), as quais migram dos túbulos de Malpighi para a probóscide (aparelho bucal – picador sugador) do mosquito. O mosquito, ao picar novo hospedeiro definitivo por ocasião do repasto sanguíneo, introduzirá as larvas.

No corpo do cão ocorrem a terceira e quarta muda. A probóscide do mosquito carrega o estágio larval L3 e, ao picar o cão, lesiona a pele, permitindo sua entrada no sangue. Da corrente sanguínea, as larvas migram para o tecido subcutâneo. Do tecido subcutâneo para o tecido muscular ocorrem a terceira e quarta muda (L4-L5), que duram 50 a 68 dias. No estágio larval L5, os adultos imaturos que estão no tecido muscular migram para os capilares sanguíneos, chegam nas artérias pulmonares e ventrículo direito, onde atingem a maturidade sexual e tamanho de até 35 cm.

A cópula é realizada nas artérias pulmonares, onde as fêmeas liberam as microfilárias na circulação, completando o ciclo – em condições ideais, de 184 a 210 dias. Cães se tornam microfilarêmicos apenas depois de um período de seis a oito meses após a infecção, tempo necessário para se tornarem maduros, copularem e liberarem microfilárias na circulação. Vermes adultos podem viver por até cinco anos em cães.

Os parasitas adultos causam lesões no endotélio vascular e obstruções no ventrículo direito do coração. O período de sobrevivência das microfilárias na circulação sanguínea – identificadas em 60% dos cães portadores de Dirofilariose – é de até dois anos. Os gatos também podem ser acometidos por essa doença.

Os sinais clínicos da doença são tosse crônica, respiração acelerada e curta, batimentos cardíacos acelerados, pressão alta, fraqueza e letargia, indisposição e intolerância a exercícios, perda de peso. Em situações mais graves, os sinais podem ser ascite, congestão aguda de fígado e rins, hemoglobinúria e morte entre 24 e 72 horas.

Dirofilariose em humanos

Em humanos, a Dirofilariose se desenvolve como uma doença pulmonar. Ocorre quando o homem se torna um hospedeiro acidental do parasita após uma picada de mosquito infectado. O homem não é o hospedeiro habitual e o ciclo desse parasita não se completa. A larva pode circular no sangue do hospedeiro ou manter-se restrita ao subcutâneo, causando nódulo.

Embora geralmente assintomática, mesmo quando há circulação sistêmica do parasita, a infecção pode levar à formação de nódulos pulmonares periféricos que mimetizam o câncer de pulmão. O parasita, ao morrer, é conduzido ao tecido pulmonar, podendo causar embolia e levar a um enfarto pulmonar.

Prevenção e tratamento

Uma das formas de evitar a transmissão da Dirofilariose é combater a proliferação do Aedes aegypti e outros vetores da doença. Reduzir a exposição do cão a mosquitos pode ajudar na prevenção. Isso pode incluir o uso de repelentes aprovados para cães, manter o ambiente doméstico livre de água parada (onde os mosquitos depositam seus ovos) e evitar passeios durante os horários de pico de atividade dos mosquitos.

Em áreas onde a doença é endêmica, é importante realizar regularmente testes de detecção da Dirofilariose. Detectar precocemente pode ajudar na intervenção e tratamento antes que ela se torne mais grave. Outra forma de prevenção é a aplicação anual da vacina nos animais de estimação.

Em caso de contágio em animais domésticos, a recomendação é que se procure imediatamente um médico veterinário, que irá avaliar a gravidade da doença e indicar o melhor tratamento. Se o contágio for em humanos, recomenda-se a procura de um médico para acompanhamento da evolução da doença, realização de exames e indicação do devido tratamento.

 

 

* A matéria também foi publicada pelo Conselho Federal de Biologia – CFBio

Resumo profissional de Elydia Paulina Campanholo Busetti (CRBio 000854/07-D):

Licenciada em Ciências Biológicas; especialista em Vigilância em Saúde Ambiental, Biologia Ambiental e Limnologia; mestre em Biologia Vegetal. Bióloga do Programa Municipal de Controle do Aedes, do Centro de Saúde Ambiental da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba.