Bioinseticida desenvolvido por pesquisadores da UEL elimina larvas do mosquito da dengue

13 de abril de 2020


* Matéria publicada na edição nº 42 da Revista BIOPARANÁ. Confira a edição completa aqui.

 

Os números da contaminação por dengue no Paraná são alarmantes. De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), no início de março deste anoos casos da doença passaram de 44 mil, e com trinta mortesconfirmadas, ocorridas desde julho de 2019.

Diante desse quadro, iniciativas como as de um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) são muito bem-vindas: eles desenvolveram um bioinseticida produzido de forma artesanal, que tem farelo de soja como substrato.O produto tem em sua base uma variedade de Bacillus thuringiensisisraelensis cultivada no Brasil.

O principal diferencial é o baixo custo. “A ideia é que o produto seja de fácil acesso à população. Nosso grupo de pesquisa enfatiza o monitoramento do vetor e do vírus para saber onde há infestação, e quando não é possível a remoção de criadouros o controle biológico para mortalidade de larvas de insetos é recomendado”, afirma o Biólogo João Antonio Cyrino Zequi (CRBio 66.076/07-D), professor da UEL e coordenador do projeto.

João Zequi relata que o projeto é desenvolvido há quase 30 anos e está na segunda geração de pesquisadores. Além de Zequi, integram a equipe os professores pesquisadoresGislayne Trindade Vilas Boas, LaurivalAntonio Vilas Bôas e Renata da Rosa. Os docentes que iniciaram o trabalhoforam Dr. José Lopes e Dr.ª Olivia Nagy Arantes. “O projeto avançou muito com a participação definitiva de um professor entomólogo, através da estruturação de um grupo interdisciplinar junto ao CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico]”, destaca o Biólogo.

Essa estruturação foi possível porque o projeto foi contemplado na Chamada MCTIC-CNPq / MEC-CAPES / MS-Decit / FNDCT nº 14/2016 – Prevenção e Combate ao vírus Zika, obtendo financiamento federal. O professor Dr. Mário Antonio Navarro da Silva, entomólogo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), é o coordenador geral.

Além da produção do bioinseticida o projetorealiza outras ações: faz o monitoramento do vetor e do vírus para dengue, chikungunya, zika e febre amarela por meio de desenvolvimento de armadilhaspara mosquito;utiliza ferramentaspara monitoramento viral; trabalha no desenvolvimento de um repelente natural; faz a verificação de estrutura genética populacional de mosquitos e seleção de resistentes por meio de produtos químicos.

 

Produção dobioinseticidae ação nas larvas

 

Graças ao financiamento do CNPq foi possível desenvolver o formulado do bioinseticida,já em condições de uso. O formulado está na fase experimental, na versão comprimido e pó dispersível. Tem como base obioinseticida líquido, que é centrifugado, liofilizado e depois formulado em Curitiba, na Universidade Federal do Paraná, com a equipe do Dr. Francisco de Assis Marques.

As larvas ingerem as matérias inertes naturais do bioinseticida juntamente com as protoxinasCry, Cyt e Vip, que são específicas para Culicidae. O pH alcalino da larva dissolve as protoxínas e as transforma em toxinas ativas que se ligam a sítios específicos, causando uma sepse com mortalidade em até 24 horas. Vale ressaltar que a bactéria produz os esporos e cristais e que essas proteínas matam exclusivamente Culicidae e Simuliidae, não afetando a fauna associada.Como são várias proteínas com ação entomopatógena e atuam de forma sinérgica ainda não se tem relato de seleção de insetos resistentes em campo.

O produto também é eficiente em baixas concentrações. Desde o processo de fermentação, a formulação foi pensada em matéria prima natural e de baixo custo que não altere o potencial entomopatógeno da bactéria.

 

Disponibilidade no mercado

 

Somente o produto líquido artesanal está disponível, e com limitação de produção para atender prefeituras e indústrias com lagoas de tratamento de efluentes ou demais criadouros não removíveis.“Queremos registrar os formulados na Anvisa, via Universidade, e encontrar um parceiro, público ou privado, para produção em escala a baixo custo para atendimento da sociedade”, destacou o Biólogo João Zequi. A vinculação com a Universidade é para que o retorno financeiro possa ser aplicado em novas pesquisas nessa área e com formação de pessoal.