Áreas de proteção no Paraná são ricas fontes de preservação da biodiversidade

16 de abril de 2021

Parque Nacional de Ilha Grande, reconhecido como Sítio Ramsar em 2017. Foto: ICMBio

>> Matéria publicada na edição nº 45 da Revista Bioparaná. Confira a edição completa aqui.

O Paraná possui três ‘zonas úmidas’ de grande importância para a preservação da biodiversidade, que são reconhecidas como Sítios Ramsar, título concedido pela Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional – ou Convenção Ramsar, tratado internacional aprovado em encontro realizado em 1971 na cidade iraniana de Ramsar. Os Sítios paranaenses estão localizados no Parque Nacional de Ilha Grande, na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaratuba e na Estação Ecológica de Guaraqueçaba.

De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o conceito de zona úmida considera toda extensão de pântanos, charcos e turfas, ou superfícies cobertas de água, de regime natural ou artificial, permanentes ou temporárias, contendo água parada ou corrente, doce, salobra ou salgada. Abrange, inclusive, represas, lagos e açudes e áreas marinhas com profundidade de até seis metros, em situação de maré baixa.

Elas fornecem serviços ecológicos fundamentais — atendem necessidades de água e alimentação — para as espécies de fauna e flora e para o bem-estar de populações humanas, rurais e urbanas. Além de regular o regime hídrico de vastas regiões, funcionam como fonte de biodiversidade em todos os níveis. Também cumprem um papel vital no processo de adaptação e mitigação das mudanças climáticas, já que muitos desses ambientes são grandes reservatórios de carbono.
Ainda segundo o ICMBio, o título de Sítio Ramsar proporciona a essas zonas maior visibilidade e acesso a benefícios financeiros ou relacionados à assessoria técnica para ações de conservação e uso sustentável. Confere ainda prioridade na implementação de políticas governamentais e reconhecimento público, tanto por parte da sociedade como por parte da comunidade internacional.

O Biólogo Erick Caldas Xavier (CRBio 50.227/07-D), conselheiro do Conselho Regional de Biologia da 7ª Região – CRBio-07, foi chefe do Parque Nacional de Ilha Grande. Ele destaca que os Sítios Ramsar são pontos de parada estratégicos para aves migratórias. Durante o verão no hemisfério sul essas aves permanecem na Patagônia. Com a chegada do inverno elas se deslocam ao longo do eixo da Bacia do Prata, pelo rio Paraná, e passam pelo Parque Nacional onde encontram pousio, descanso e alimentação para depois seguirem em direção ao norte do Brasil ou à América do Norte. “O Sítio Ramsar é importante também para a conservação de água. Ás áreas úmidas também têm grande importância para o ciclo de carbono, pois sua vegetação captura o gás carbônico da atmosfera e, após a inundação, esse gás fica preso no substrato dos lagos”, ressalta o Biólogo.

O Brasil tem 27 áreas úmidas reconhecidas como Sítios Ramsar. Saiba mais sobre os três Sítios do Paraná.

:: Veja informações e dados de Sítios Ramsar em todo o mundo

Sítio Ramsar Parque Nacional da Ilha Grande*

O Parque Nacional da Ilha Grande recebeu a designação de Sítio Ramsar em 2017. Está localizado na Bacia do Rio Paraná, na divisa dos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, sobre o arquipélago fluvial de Ilha Grande, próximo à divisa com o Paraguai. É composto por aproximadamente 180 ilhas, além de margens de rios, lagoas naturais e brejos de água doce.

Possui mais de 78 mil hectares inseridos no complexo ecossistema que integra o Corredor de Biodiversidade do Rio Paraná. A região é caracterizada pela existência de sítios históricos e arqueológicos. O relevo é plano e a vegetação rasteira, com a presença de figueiras, ingás e paus-d’alho. Na fauna destacam-se aves como o colhereiro, o mutume e o jaburu, mamíferos como a onça-pintada, o tamanduá-bandeira e a anta, e répteis como o ameaçado jacaré-do-papo-amarelo. Além disso, suas águas estão repletas de peixes, como o jaú, dourado e pacu.

O Parque Nacional protege dois tipos de meio ambiente hoje raros e degradados no Centro-Sul brasileiro: matas ciliares e várzeas. Além da beleza cênica, essas áreas são importantes locais de reprodução e alimentação de várias espécies de peixes. Também abriga várias espécies ameaçadas de extinção, incluindo o cervo-do-brejo Blastocerus dichotomus, símbolo do Parque Nacional, o bugio-pardo (Alouatta fusca) e o gambá-de-quatro-olhos-do-sudeste (Philander frenata), endêmico da Mata Atlântica. Incêndios, caça e introdução de espécies exóticas representam ameaças ao local.

Sítio Ramsar APA Guaratuba*

Parte significativa da APA de Guaratuba recebeu em 2017 o título de Sítio Ramsar. Localizado no município com mesmo nome, possui cerca de 40 mil hectares (a APA tem aproximadamente 200 mil ha).

A região apresenta um potencial particular para o turismo, com suas serras com campos de altitude, rios, cachoeiras, represas, baía, planícies costeiras, manguezais e sítios arqueológicos.

O Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais contribuiu para a criação desse Sítio Ramsar, por meio do projeto “Implantação do Plano de Conservação do Bicudinho-do-brejo”, realizado entre 2012 e 2015 com o apoio financeiro do Fundo Brasileiro para a Conservação da Biodiversidade (FUNBIO). “Um dos objetivos do projeto era a produção de documento para subsidiar o Comitê Nacional de Zonas Úmidas (CNZU), colegiado vinculado ao MMA, a propor à Unesco a criação de um novo Sítio Ramsar na APA de Guaratuba”, afirma a Bióloga Karina Luiza de Oliveira (CRBio 8.208/07-D), responsável por essa meta do projeto.

Os dados ambientais da fauna e da flora da região, levantados pela equipe do projeto, revelaram que na área da baía de Guaratuba e em seu entorno imediato vivem 322 espécies de aves, sendo 14 delas ameaçadas de extinção a nível global. Entre elas está o bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris), espécie descoberta em 2015 pelos Biólogos Bianca Luiza Reinert (in memoriam) e Marcos Ricardo Bornschein (CRBio 25.234/07-D), e que ocorre em apenas algumas populações isoladas entre os litorais dos estados do Paraná e do norte do Rio Grande do Sul. O Sítio Ramsar abriga cerca de 42% da população dessa ave ameaçada de extinção. A mastofauna do Sítio também apresenta grande diversidade, como a lontra, a paca, o ouriço, entre outros.

A região protege as maiores extensões de áreas úmidas preservadas em todo o sul do Brasil. Possui manguezais bem preservados, matas de alagamento periódico, pântanos e mais de 3.000 hectares dos últimos vestígios de matas de caixeta (Tabebuia cassinoides). Embora possa ser considerado um habitat bem preservado em comparação com outras baías do Brasil, ameaças como a pesca predatória, poluição, turismo desregulado, mineração de areia, invasão de espécies exóticas como as braquiárias d’água e a ocupação de áreas de manguezais estão presentes.

Sítio Ramsar Estação Ecológica de Guaraqueçaba*

A Estação Ecológica de Guaraqueçaba está localizada no litoral do Paraná. Faz parte das Reservas do Sudeste da Mata Atlântica, Patrimônio da Humanidade desde 1999. O Sítio, reconhecido em 2018, contém os habitats mais importantes para a conservação da biodiversidade in situ da região e possui uma grande diversidade de espécies endêmicas e migratórias, como a ameaçada de extinção tartaruga-verde (Chelonia mydas) e o vulnerável golfinho Franciscana (Pontoporia blainvillei). O Sítio também é um exemplo representativo de processos ecológicos e biológicos significativos em andamento na evolução e desenvolvimento de ecossistemas terrestres, de água doce, costeiros e marinhos, como florestas e manguezais. Essas áreas são importantes para diferentes espécies, incluindo peixes e invertebrados, como ostras e caranguejos. As espécies invasivas e o uso de recursos biológicos representam ameaças ao local.

* Com informações do Ramsar

Área de reserva da Itaipu protege a biodiversidade e beneficia comunidade local**

Durante a construção da usina de Itaipu, o reservatório foi cercado com áreas de mata a fim de evitar o assoreamento (depósito de sedimentos). Os mais de 100 mil hectares de florestas protegidos em ambas as margens – brasileira e paraguaia – receberam o status de Reserva da Biosfera, chancela dada pelo Programa “O Homem e a Biosfera” (MaB, em inglês) da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Essas áreas geram diversos impactos positivos para as comunidades e para os sistemas produtivos localizados nas áreas próximas ao reservatório. São os chamados serviços ecossistêmicos. “Os serviços ecossistêmicos de regulação são os que as áreas da Itaipu mais prestam, uma vez que não se pode praticar extrativismo nessas áreas. Mas também podem ser considerados serviços culturais, uma vez que há atividades turísticas e de lazer nos municípios às margens do reservatório”, afirma o Biólogo Ariel Scheffer da Silva (CRBio 9.129/07-D), superintendente de Meio Ambiente da Itaipu.

É por isso que a Itaipu desenvolve uma série de ações e projetos de conservação, desde a restauração florestal, à criação de espécies ameaçadas de extinção e à reintrodução de espécies da fauna. Isso contribui para reestruturar as florestas locais e a repor serviços ecossistêmicos já impactados.

** Com informações do site da Itaipu